CUIDADO !!!

20 de março de 2011

Não deixe o samba "morrer"!


Esse carnaval foi muito gratificante para mim, e já explico por quê.
Sou apaixonada por carnaval, sempre fui. Quem me conhece sabe dessa minha eterna paixão por essa cultura maravilhosa que todo o ano, de certa forma, enriquece o nosso país, não só financeiramente, mas, cultural e visualmente.
Venho de uma família que sempre viveu no carnaval. O meu lado “paterno” nasceu e se criou dentro de uma das escolas de samba mais tradicionais do Brasil, o Camisa Verde e Branco. Onde aprendi muita coisa sobre o carnaval, e não só a admirá-lo.
O Camisa Verde sempre foi (e será) o meu grande amor, meu berço, meu manto.
A visão de “chão”, de comunidade que tenho, que aprendi, foi lá, na Verde e Branco da Barra Funda, e claro, acompanhando as escolas Nenê, Vai-Vai e Peruche.
Quando nós, que nascemos no carnaval, usamos a expressão “chão”, queremos dizer, a comunidade veio em peso, cantando, evoluindo, crescendo...
O carnaval de São Paulo cresceu muito. Rico, disputado, acirrado.
Hoje em dia, as escolas mais tradicionais não lideram mais tanto o carnaval como há 5, 10 anos atrás.
As escolas mais novas, ou as não tão tradicionais assim vêm tomando conta, correndo por fora. Fazendo desfiles técnicos, comissões de frente inovadoras, carros alegóricos ora gigantescos, ora com efeitos, enfim... Não há mais favoritos! Cada uma dá seu show á parte.
Mas com toda essa inovação, tecnologia e crescimento, o carnaval de São Paulo tem ficado “comercial” demais... técnico demais. E a espontaneidade das alas, das escolas num todo (evolução), está se perdendo.
As escolas hoje, se preocupam muito mais em fazer o tal desfile técnico (para os jurados), do que para a arquibancada, que esperou o ano inteiro prá assistir o espetáculo e pagou quase 100,00 pilas prá estar ali, faça sol ou chuva...
Tive a oportunidade esse ano de trabalhar na Uesp (União das Escolas de Samba Paulistanas), e confesso que foi uma das experiências mais gostosas da minha vida.
A Uesp é responsável pela organização dos desfiles oficiais de bairro, blocos carnavalescos e também no Anhembi. Possui curso de formação de jurados e oficinas profissionalizantes.
Participei de toda a organização, desde a formação dos jurados, até os desfiles oficiais. E fiquei apaixonada pelo que vi.
No desfile que trabalhei no bairro da Vila Esperança, na Zona Leste, fiquei encantada com cada escola, com cada integrante. A emoção estampada na carinha de cada um! O orgulho de estar ali pela sua escola, pelo seu bairro, ou vila.
O amor, o carinho com a escola, espontaneidade total nas alas, seus diretores de ala e harmonia atentos e atenciosos. O capricho com as fantasias e carros alegóricos, que embora muito simples, encantaram a todos que estavam assistindo, ali na rua mesmo, por trás dos alambrados.
Todos aplaudiam! A rua lotada, assistindo o desfile até o fim, madrugada adentro sob a garoa que insistiu em cair! Muito gostoso.
E o mais legal de ver, era que ali, prá eles, era como estar no próprio Pólo Cultural, no Anhembi. Era como se estivessem sendo televisionados, tamanha a alegria e garra de estarem ali.
Depois dessa grande experiência, mudei muito o meu conceito sobre o carnaval, sobre a festa em si, e sobre as escolas.
E confesso que me bateu uma certa tristeza.
Pois sendo tão comercial assim, o prazer de estar ali pelo seu pavilhão, a espontaneidade da alas, a evolução da escola, acaba sendo tudo muito mecânico. Sim porque, quase todas as alas, hoje, são coreografadas.
Acaba se perdendo, você acaba se preocupando somente com títulos, e mais nada.
Vira uma disputa de “ego”, de vaidade...
Não quero ser mal interpretada, não sei se me expressei da forma que queria, mas, o fato é que não quero que as escolas percam o encanto.
Que se lembre de onde vieram, e como tudo começou.
Estudem mais a história de suas agremiações, relembre do sacrifício que foi em 1900 e alguma coisa montarem um cordão, uma escola.
Quem não quer ser campeão do carnaval??
Esse crescimento comercial se faz necessário sim, é fonte de renda pras escolas e prá quem trabalha nelas, mas não percam o “chão” de vocês... a raiz... o orgulho do seu pavilhão. Aprendam a mesclar tudo isso, e envolva seus integrantes à cada ensaio.
O pavilhão representa toda a trajetória de uma escola de samba, por isso um dos cargos mais importantes dentro de uma escola, na minha opinião, é o casal de mestre-sala e porta-bandeira.
Não percam o amor pela escola, o encanto.
Alas coreografadas é lindo sim, mas ver um integrante da ala sorrindo, se divertindo, cantando com orgulho o samba de sua escola, é mais bonito ainda.
Convido a todos vocês, não só quem está lendo meu texto, mas, aos dirigentes das escolas, diretores, para em 2012, prestigiarem o carnaval dos bairros.
Escolas de samba como Lavapés (uma das mais antigas de SP, fundada em 1937), Colorado do Brás, Barroca da Zona Sul, ainda fazem parte da história da nossa festa.
Eles não aparecem na TV, não dispõem de verba grande, suas fantasias são simples, mais o amor que nutrem pelo pavilhão, pela escola, é o que mantém a suas historias viva.
É o que garante o amor deles pelo carnaval, ainda vivo.




 ♫ “...Hoje o samba saiu, lá lalaiá, procurando você..
Quem te viu, quem te vê..
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer,
Quem jamais esquece não pode reconhecer...” ♪